19 março, 2013

23:56

A noite cai,
O seu cheiro a constelações e fogueiras nativas envolve o sono desperto dos poetas da cidade.
As luzes noctívagas acendem-se: o foco de inspiração respira depois de um longo sulco de ar sustido num mergulho do dia.
Os bichos soltam-se e voam; escuta-se o seu bramir transportado na brisa que ecoa entre os pilares de betão desta cidade tão velha. As tertúlias de Pessoa e de Ary revivem nos sonhos dos que ainda ousam fazê-lo.
As letras caíram para as fendas do chão das casas pombalinas. Os golpes vagabundos dos que nada têm deterioram as ruas negras e fundem o mercúrio das lâmpadas.
A velha grafonola da metrópole range com a agulha a partir-se em cada rotação; as folhas de papel manchado de licor desfazem-se no lume da lareira; a chama aumenta com o cair da noite.
As ascenções ali feitas, elevadas a patamar de estrela, caem agora na calçada, espezinhadas pelo andar sujo de um mendigo que toma o chão como céu.

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