02 abril, 2013

À beira-rio

À beira-rio, quando a lua já dança no passar das horas e o corpo cessa a esperança, procuro-te por entre as latas enferrujadas que boiam na corrente.
Busco-te por entre a calçada ferida e por entre os vidros partidos das janelas.
Busco-te por entre os bibelots com cheiro a mofo e por entre as peles dos casacos que as prima-donas passeiam nas ruas.
Busco-te por entre terra e céu e fogo e mar. Não, não mar. Por entre rio.
Busco-te como quem busca o âmago da existência no fundo do tinto de uma garrafa, ou como quem busca o peso da vida nas lápides marmorizadas.
Busco-te,
Revolvo-te o ser que não conheço no Dó Sustenido de uma sinfonia por inventar.
Envolvo-te o vento nu no peito, que cubro com lençóis de linho áspero e frio para que te sintas.
Para que me sintas.
Pinto-te as íris com tinturas rupestres, profundas e primitivas de tão elementares.
Torturo-me,
Espero-te,
À beira-rio. À meia-lua. Num eterno atracar de um barco à vela, no rio onde me perco para te encontrar.

Sem comentários:

Enviar um comentário