27 janeiro, 2012

Amor de Pedra

Sem aversão.
Aproxima-te sem aversão.
Não deixes que o meu trato de rochedo te disperse da tua missão desconhecida.
Fica, pernoita deste lado.
Despreza a minha máscara pálida, sem emoção. Sou tão mais do que pareço; perdoa a ignorância desta efémera passageira à vela.
Não partas. Permanece por mais uns minutos.
Tenta pelo menos descobrir-me. Ah!, como quero que me descubras. Não consigo pintar um quadro sem a tua cor.
Não corras, abranda a corrente.
Toca-me os ombros quando viajo de costas voltadas; tenho tanto para te dizer.
Não sou gélida como o vazio dos meus lábios; porto em mim um beijo de um poeta adormecido. Sabes, meu amor, a que sabe um poeta adormecido?
Não, não vás, fica só mais um momento. Tenho um livro inteiro de quimeras para te declamar.
As palavras ficaram presas na teia do teu corpo; o teu suspiro adormeceu-me. Porque suspiras assim? Não quero adormecer; lembra-te daquilo que pensas, sou tudo o que achas que pensas.
Já quase não te vejo; volta para trás.
O abandono abraçou-me o peito, o amor perdeu as letras e os sonhos. Estiveste tão perto, qual canção de embalar à hora do crepúsculo. E agora? Sou suposta refulgida no leito do sofrimento? Ah!, como conheço eu esse leito.
Tudo o que ficou agora foi o horizonte.
Tudo o que sempre tive foi o horizonte.
Amor? Que amor?
Meu amor? Nosso amor? Uma miragem.
Somente o teu figurou. Inatingível, inimaginável, inútil amor.

2 comentários:

  1. " Ah!, como quero que me descubras. Não consigo pintar um quadro sem a tua cor." e que maravilhamento o meu ao ler estas encantadoras palavras :)
    Que belas palavras, tudo tão poético, tão melancólico e tão sentido, profundo... Vai mais para além das palavras, vai mesmo ao que há de mais fundo.

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    1. Muitíssimo obrigada, desta vez, pelas tuas palavras Cat :)

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