08 janeiro, 2014

Corpo mais que corpo

Quando escrever sobre o amor se torna redundante, sem sentido, é porque o amor já não motiva o pulsar do sonho.
Escreve-se agora sobre os habitantes nocturnos da máquina central do corpo,
A ânsia e a vontade de ter um corpo mais que carne, mais que sangue,
Ter um corpo que é terra e ar,
Um corpo que não sente, apenas absorve o que os olhos guardam e desenrola o novelo sombrio das palavras na tinta que percorre as veias,
Um corpo que dilacera a dormência e rasga o cheiro pútrido das ruas pelas quais o coração já não passa.
Um corpo que não chora, que não toca,
Um corpo que não cai no chão e que não falha e que não dói,
Ter um corpo que é cânone clássico, portador do sorriso arcaico que ressoa no poço do Universo,
Um corpo que é mais que o corpo.

O peso do céu abate-se sobre a minha própria existência.
E eu, que nem sei se existo, todos os dias o carrego.

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