07 dezembro, 2012

Cacos

Quando nos entregamos, servimos num banquete tudo aquilo que temos.
Quando nos desiludimos, as pernas da mesa partem-se, a toalha rasga-se e as bandejas caem sobre nós. Destruimo-nos, estilhaçamo-nos. Faltam-nos peças, porque quando nos entregamos, por muito não-recíproca que essa entrega seja, aquilo que damos nunca nos é devolvido.
Ficamos no chão, rasgados, amarrotados. Uma perna treme, uma mão lateja, sendo esse codificador de sofrimento o único facto que nos dá sinal de vida.
As horas nadam sobre o relógio, e nós, no chão, pestanejamos e ganhamos raízes num sítio que não pertencemos.
É o fim.

Mas não é.
É das cinzas que a fénix nasce. E há sempre mais uma fénix por nascer.
O fim é a morte. E essa é a magia da vida: o poder de, até morrer, podermos renascer quantas vezes quisermos.

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