02 maio, 2012

Rasgas-me a pele (suavemente)

Rasgas-me a pele suavemente.
Descobres-me a carne, gelas-me o sangue... Mas não existe dor, apenas um espesso vidro de leveza, por onde escorrem grossas gotas de inquietude.
Voas como uma pena negra, és um misto de rochedo com maresia. E eu aprecio, quieta no areal, o teu espectáculo transcendente.
Os ventos de que fujo são os que te trazem de volta. Os meus passos enterram-se nas areias de que és feito, e continuas, sem memória nem noção, a sufocar-me de profundidade de ti.
Procuro tempo, espaço, correndo no vazio da alma que trespassas sem punhal nem lança.
Percorro os labirintos onde te constróis, alago os castelos de areia que tento, em vão, construir à tua volta. Tento findar o pensamento, mas ele alimenta-se das ondas que fazes morrer na praia.
Rasgas-me a pele suavemente... Não vou impedir-te. Arranja apenas linha para a coseres de volta.

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