14 março, 2012

Corpo


Sou feita de ossos, carne e sangue. Sinto e toco, cheiro e lembro.
Tenho a minha pele como tela à tona de água, à espera de uma ferida glaciar, ou de um vento quente de sudoeste. Porto cicatrizes do passado, unhas cortadas, poros abertos de inquietude.
Rasgo fibras transparentes, mil tecidos inquebráveis. Carrego sobretudos de tristeza, camisas abertas de mágoas e nudez pura por momentos.
Correm-me as veias no peito, notas soltas de uma melodia inconstante; nelas pulsa a corrente que acorrenta o corpo.
Lianas selvagens tocam-me os ombros, movem grãos que mexem o tacto.
E no centro da máquina, outra máquina está.
Ironicamente inacessível. Intocavelmente frágil.

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