18 junho, 2011

Sophia, a Fénix

O vento com sabor a eucalipto batia na face de Sophia, esfomeada por juventude.
Sentada no banco traseiro do carro vermelho da sua filha, observa as matrioskas, como carinhosamente tratava as suas descendentes: uma mulher com 'M' grande a tempo inteiro e dois lírios. Dois pequenos lírios reluzentes e saltitantes que parecem tomar o rumo contrário ao das suas rugas. Eram as três pessoas da sua vida, as quais as suas mãos trabalhadas valiam a pena, as quais compensavam o novo tom dos seus longos cabelos.
A velocidade que os pinheiros tomavam na sua dianteira tornava-se numa narradora analépsica da sua vida, porque era assim que a mesma tinha passado: como um carro em velocidade ascendente numa estrada com curvas, percalços e maratonas de serenidade.
Como era possível? Os frutos da sua corrida tinham amadurecido, e chegava ela própria a ponderar como seria o saciar de si própria. Para a continuação das outras vidas, para o nascimento de novas árvores é necessária a morte de outras e da regeneração da terra.
Mas Sophia era uma fénix, destinada a renascer das cinzas.
Os seus olhos não se contiveram a inundar quando no seu pensamento passaram estas imagens. Nunca ninguém está pronto para abandonar o que tem, mesmo para um posterior renascimento. E Sophia pensava que o seu interior tinha chegado a um ponto de estagnação, onde já nada parecia mudar.
Até que, na mesma dianteira, uma ave rasgou os céus, puxou uma nuvem e abriu o sol; que as ervas clarearam e o vento aumentou o seu sopro, voltando a trazer o sabor imortal do eucalipto, fazendo com que a face de Sophia ficasse novamente com fome de juventude. A sua grande mulher invocou a sua volta ao mundo terreno e os dois pequenos lírios tocaram nos seus gratificantes cabelos brancos e nas suas mãos trabalhadas, para Sophia acompanhar os seus percursos enquanto ainda pudesse.
E o seu coração palpitou.
Haveria ainda vida em Sophia?

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