10 março, 2011

QUEEN from the King

19 de Fevereiro de 2011, por volta das 22.30h.
O meu Pai chamou-me da sala.
Na televisão passava o “QUEEN Rock Montreal”. De imediato sentei-me no sofá a ver o concerto que, de entre outros tantos, sonhei dentro de uma utopia algum dia assistir.
Encostei-me à pele azul do sofá que repousa na minha sala há já alguns anos, para ver e sentir uma actuação que de certeza não iria esquecer enquanto a minha memória o permitisse.
As músicas eram tocadas com o Freddie a fazer sonar a sua voz, enchendo o recinto bem como os meus ouvidos; as inconfundíveis linhas de baixo do John e os seus peculiares movimentos em palco; os fabulosos solos de guitarra do Brian que me conseguem deixar sempre boquiaberta e a garra e paixão com que as baquetas do Roger tocavam nos tambores.
O público vibrava, os QUEEN deslumbravam, e eu, sentada ao pé do meu Pai, sem falar a não ser sobre pequenos e incontroláveis apontamentos musicais, sentia que para além das ligações genéticas e afectivas, aquela era uma ligação que nunca poderia esquecer.
Começa o “I’m In Love With My Car”, e sem estranhar, o meu Pai aumenta o som da televisão.
A sua expressão não conseguia suster o sentimento que aquela música transmitia e, quem sabe, aquele concerto e toda a ligação existente àqueles quatro músicos.
Uns minutos depois, uma melodia familiar começava. Uns dialectos soavam e de rompante, um sentido “Pressure” preenche a sala do meu sofá azul. Em uníssono, e sem até hoje saber qual de nós os dois era o Bowie ou o Mercury, eu e o meu Pai entoávamos quase que em tom de sussurro o lendário “Under Pressure”.
Após este momento, o meu Pai profere inesperadamente:
“Hoje o Nelinho fazia anos. É uma boa homenagem a ele”.
Aquelas palavras foram das mais marcantes que ouvi até hoje. Aquele tinha sido o homem a incutir QUEEN no meu Pai, e seria para sempre o homem que eu iria recordar por isso mesmo.
Quando dizem que só sentimos a verdadeira importância de alguma coisa é quando esta já não existe, é verdade. Os anos já não são os mesmos, a rotina também já não é a mesma e o blusão de ganga com a bandeira do Reino Unido e com a palavra “QUEEN” cosida à mão pelo meu Pai já não existe, mas sei que a ligação será a mesma. Essa ligação que me foi transmitida e fez, sem dúvida, uma grande parte de mim ser o que é.
Fez com que o meu lema de vida seja uma frase do “The Show Must Go On”; fez com que me apaixonasse pela música; fez com que me identificasse com inúmeras actuações; fez com que conversas sobre este assunto dessem início a grandes empatias; fez com que tivesse o tema perfeito para a minha apresentação oral de Inglês do 10º ano e fez com que chorasse e risse a ouvir os seus sons eternos.
Não sei se mais tarde irei continuar com o mesmo gosto que tenho agora, mas suspeito que seja uma paixão eterna, porém, o dia de amanhã nunca será descoberto até ser vivido.
E neste momento, ao acabar de ouvir o “Who Wants To Live Forever”, sei que as palavras já escassearam e chegou o tempo de terminar.
Não espero nem de longe nem de perto que este texto se torne num novo Diário de Anne Frank, só quero que um dia mais tarde, quando chegar a minha vez da rotina e dos anos já não serem os mesmos, que este texto seja lido por aqueles que virão depois e a partir de mim, e sintam tudo aquilo que eu, no dia 19 de Fevereiro de 2011 senti ao ver o meu Pai, com os QUEEN, a deslumbrar Montreal.

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