02 fevereiro, 2011

Eu sou o cheiro da noite

Eu sou o cheiro da noite, o olhar do dia,
Conjugação de orquestra em harmonia
Sou vísceras, carne crua
Alma e lágrima nua
Sou pedra, fumo e fogo
Verdade triste num empírico jogo
Sou folha caduca, lembrança persistente
História por contar, pensamento demente
Sou boca, perna e peito
Dor no ataque com carinho no leito
Sou palhaço, bailarina e malabarista
Sem abrigo, um artista
Sou terra, céu e água
Partida constante de constante mágoa
Sou estrela, constelação
Tempestade, furacão
Sou buraco negro de ávida sucção
Faca espetada no coração
Sou planície verde, mato verdejante
Dialecto presente em canção de trovante
Sou grão de areia, mar de imensidão
Meta inalcançável ao cair no chão
Sou arma que fere, música sonante
Vazio que grita a qualquer instante,
Sou morte e vida, triste fado
Sol que cega, lume apagado
Sou expressão de medo, riso de alegria
Canto de pássaros em sintonia
Sou poeira, irritação
Porta que se fecha com o fechar da mão
Sou abraço, beijo e tacto
Ferida que arde em espinho de cacto
Sou verso desfeito, sopro mudo
Lixa que raspa, suave veludo
Sou passo de partida, suspiro final
Pateada ou ovação de espectáculo monumental
Sou fechar de olhos, última badalada
Sou résteas de tudo numa mão cheia de nada.

(Fotografia de minha autoria. Auto-Retrato, quiçá.)

Sem comentários:

Enviar um comentário