31 janeiro, 2011

Não sei


Não sei de onde vens, nem como cresceste. Não sei como é a cor do teu cabelo nem a expressão da tua cara. Não sei a que horas decides aparecer nem a que horas te decides ir embora. Não sei como soa a tua voz... Só sei que te sinto. Sinto-te e um vício incondicional de ti, faz com que não te deixe ir embora de vez.
E mais uma vez não sei...
Não sei porque não te deixo ir, não sei porque é que algo que me prende, algo tão obsessivo, algo tóxico e que corrói me causa tanta dependência, tantos movimentos automáticos a ti, tanto negrume e ao mesmo tempo tanto conforto.
Sabes o que sinto?
Sinto-me como quando era criança e os meus pais dobravam os lençóis... Era tão leve na altura que tinha a capacidade de me atirar para cima daqueles simples tecidos e permanecer lá a baloiçar de um lado para o outro... Tu sabes, de início um receio incrível de poder cair, mas depois, depois de dar um passo em frente era me dada uma das melhores sensações de que me recordo. As pequenas luzes do tecto da sala de um lado para o outro, e de 6 focos passavam para 12, e os movimentos eram tão rápidos que de 12 passavam a 24. E é isso que sinto, é exactamente isso que sinto quando apareces. Tenho sempre receio de me apegar a esse vazio que és tu. Esse vazio que suga as entranhas e se entranha sempre em mim. Esse vazio que me faz ansiar sempre por mais, mais dessa presença invisível, mais do silêncio cortante e reconfortante, mais da ânsia pela tua inconstante presença. Mas quando apareces... O medo de cair em ti desaparece, e eu caio. Caio nos mesmos lençóis que me envolviam em pequena, os lençóis que trazem a ilusão de sensações que sempre julgo infindáveis. Ilusões puras, ilusões cruas, que acabam sempre. E o ciclo recomeça... A ânsia de voltar a ver os focos a multiplicarem-se, a sentir as tuas presenças mais constantes, a ver uma criança chegar a um baloiço vazio, e baloiçá-lo, até o deixar novamente na dependência de conforto.
Ouves-me e não dizes nada.
Vês-me e não me criticas.
Chegas e não avisas.
Estás e eu não te vejo.
Não sei nada de ti, nada. Não te conheço.
Mas não me importo. Eu também não me conheço, e tenho que viver comigo todos os dias.

(Para a Joana e o seu rapaz do comboio.)

3 comentários:

  1. F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O!!
    Adorei mesmo, e a última frase, morri ao lê-la por ser uma das frases mais verdadeiras que já li!
    É doentio, mas é tão bom quando esse vazio, essa ausência aumenta os nossos dias, e nós esperamos e esperamos que um dia deixe de ser apenas mais um dia, e podermos, afinal, conhecer-nos a nós próprios. (divagações sentidas, sorry Bea ;)) Grande texto, adorei, juro.

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  2. Está mesmo fantástico bea! Adorei completamente!!!!:D

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  3. Meu deus como é que eu ainda não tinha comentado isto?! Nem preciso de dizer nada é o meu preferido, não por ser para mim, mas sim por me fazer lembrar tudo o que pensei nos 14 minutos que vi o rapaz perfeito para mim.
    "Não sei nada de ti, nada. Não te conheço.
    Mas não me importo. Eu também não me conheço, e tenho que viver comigo todos os dias". E isto diz completamente tudo. :)

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