11 janeiro, 2010

A Namorada do Soldado


Mississipi, 12 de Agosto de 1965

Outra noite.
Outra igual a tantas outras.
Dou por mim a ir à janela vezes e vezes sem conta. Não consigo parar.
A brisa quente de Agosto invade o meu quarto e a pequena chama da minha vela cor-de-rosa treme.
Já não sei mais o que fazer. Há três noites que não durmo.
Desde que foste embora que não tenho razão para fazer qualquer tipo de coisa. Para quê?
Vai fazer um ano que partiste. Já parece uma década. Ainda tinha esperança que não fosses chamado, visto que a guerra começou em '59... Mas foste.
Não fazes ideia da falta que me fazes.
Ainda ontem dei por mim a ir ver a Música no Coração sozinha. Nem queria acreditar. Cada pessoa que me encontrava fazia a mesma pergunta:
- Então Liz, que é feito do Frank?
E eu respondia sempre a mesma coisa:
- Foi chamado para o Vietname.
Maldito nome que me parte o coração em mil pedaços!
Já não sei o que fazer. Os dias demoram uma eternidade a passar. Já nem sequer pinto. Não consigo, nada me surge. Só gostava de poder acelerar o tempo ou substituir o Alabama pelo Vietname, para te poder ver todos os dias.
Mas não posso. Sou apenas mais uma rapariga entre milhares de outras, perdida numa vila qualquer no interior dos Estados Unidos, que não tem qualquer poder sobre nada nem ninguém.
Resta-me esta forma de comunicar contigo, ou pelo menos tentar. Nunca mais respondeste às minhas cartas. Até hoje não sei nada de ti. Esta incerteza dá comigo em doida. Só gostava de ter uma certeza. Uma única certeza.
Agora corro lá para fora. Uma nuvem densa cobriu o céu da nossa vila. Começou a chover.
A chuva cobre o meu corpo e eu vejo alguém a abrir o portão da casa. És tu. Tenho a certeza. Conheço-te. Nunca deixei de acreditar, sempre esperei que voltasses. Estás cada vez mais perto, e o teu uniforme verde assenta-te bem, muito bem. Paraste, olhaste para mim e abraçaste-me de uma forma como eu já não sentia há muito tempo. Parou de chover e voltámos para dentro.
A nossa fotografia permanece na mesa de cabeceira junto à única carta que me mandaste. Conversámos durante a noite inteira e vimos o nascer do sol juntos. Não há nenhum igual a este.
Agora vejo-te a dormir e reparo como mudaste.
O teu cabelo cresceu e tens uma barba rasteira. Reparo na cicatriz que tens no peito.
Para além de tudo, continuas perfeito. És tu.
Agora consigo ver um futuro à minha frente, e tu caminhas a meu lado, como sempre irás fazer.
Peguei numa tela e comecei a pintar. Recomecei tudo o que tinha deixado há um ano atrás. Tenho a razão para tal.
A única coisa que me resta a desejar é que não me deixes, nunca mais. Somos demasiado fortes para nos separamos. Nem uma guerra o fez.
Quando algo está destinado, nada o contraria.


P.S: Vou guardar esta carta na segunda gaveta do armário. Um dia quando a encontrares, espero que percebas tudo aquilo por que passei durante a tua ausência, e também o quanto significas para mim. Eu não preciso de uma carta. Tudo aquilo por que passaste e o quanto eu significo para ti, percebi no dia em que chegaste, e no momento em que me olhaste nos olhos. And I will love you, forever.


Para o meu eterno Frank, da tua eterna Liz.
With Love.
por: Beatriz Saraiva *

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