04 dezembro, 2012

Miúda

Aumenta a velocidade do passo, sem correr.
Sobe a rua com a mochila às costas, contando as pedras da calçada que se avizinham. Passa sobre elas, de quatro em quatro, nunca levantando a cabeça. Os prédios velhos, velhos como as pessoas velhas que por ela passam, alinham a baixa altura daquele sítio modesto. E ela, de olhos no chão, ignora-os: os prédios velhos e as pessoas velhas como eles.

Usa uma fita na cabeça e os cabelos alinhados pelo queixo; reboliça e verde, ainda com tantos passeios por palmilhar.
Continua o passo-a-passo ascendente, até que uma clareira citadina rompe de juventude num bairro tão velho.
Agora sim, levanta a cabeça. Corre. Pousa a mochila no chão, junto à base de um corrimão de ferro que une duas partes distintas do bairro velho.

Senta-se nos braços do corrimão e desliza. Abre os braços, fecha os olhos. Sorri.
Chega ao fim do corrimão, e sobe as escadas para o topo da clareira. Torna-se uma máquina, a pequena verde e reboliça, perdendo a conta às vezes que desliza a descer e cansa-se a subir.

Espera que a vida seja assim, como a descida: um doce som de liberdade, contínuo, sem que seja preciso cansar-se para o ouvir outra vez.

Ah, como é mais difícil  a subida da vida agora, não é miúda?

Sem comentários:

Enviar um comentário