(...) O pior é que vivemos tempos
imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De
cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta
estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e
alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. (...) O esquecimento não tem
arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com
comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas
lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de
lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.
- Miguel Esteves Cardoso, in "Último Volume"
Sem comentários:
Enviar um comentário