15 julho, 2012

On the Road, Jack Kerouac

«Mu-u-u-usic pla-a-a-a-a-a-ay»!
Inclinou-se para trás com o rosto voltado para o tecto e o micro em baixo. Estremeceu, balançou-se. Depois curvou-se para a frente, quase caindo de caras sobre o micro. «Ma-a-a-ake it dream-y for dan-cing» - e olhou para a rua lá fora, com os lábios curvos de desdém, o sorriso trocista de Billie Holiday - «while we go roman-n-n-cing» - cambaleou para o lado - «Lo-o-o-ove's holida-a-ay» - abanou a cabeça com nojo e cansaço do mundo inteiro - «will make it seem» - com que é que se pareceria? Toda a gente esperava pela resposta; ele gemeu - «okay». O piano soltou um acorde. «So baby come on just clo-o-ose you pretty little ey-y-y-y-yes» - a boca tremia-lhe, ele olhava para nós, Dean e eu, com uma expressão que parecia querer dizer, "Ora vamos lá ver o que é que nós todos andamos para aqui a fazer neste mundo triste e pardacento?" - e depois chegou ao fim da sua canção, para o que foram necessários elaborados preparativos, e nós bem podíamos ter esperado sentados durante toda a demora, mas quem é que se ralava com isso? Estávamos ali diante do âmago e do caroço da própria vida exausta das ruas horríficas do homem, e por isso ele dizia e cantava, «Close... your...» a plenos pulmões, até ao tecto e através das estrelas e ainda para além delas - «Ey-y-y-y-y-y-yes» -  e desceu da plataforma, cambaleando, para se pôr a cismar. Sentou-se a um canto com um grupo de rapaziada, sem lhes prestar atenção. Olhava para o chão e chorava. Era o maior.

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