20 maio, 2012

Noutro tempo. Noutro amor.

Uma vasta planície estendia-se até ao horizonte, ladeada por serras e por mar. No meio repousava uma casa cercada de árvores. Árvores essas que lhe davam, com a altivez das suas copas, o conforto de um leito no meio de um campo imenso cheio de nada.
A casa era branca. Misturava o clássico de um solar com as linhas minimalistas de '70. Uma varanda percorria o andar de cima, enquanto que duas cadeiras de madeira nela morriam.
Um beetle cobria a entrada, bem como uma bicicleta com um cesto de verga, salpicado de pétalas esquecidas.
Toda a casa era acompanhada de janelas. Janelas largas e altas onde toda a luz, desde a da aurora até à crepuscular, enchia o interior de transcendência.
A casa completava-se no seu todo: uma mistura de cores e épocas, peças escolhidas com perícia, sinónimos de vivências nunca vividas ou de revivências já esquecidas.
Contudo, era o sótão que, na sua simplicidade de local esquecido, recolhia o que de mais puro ali existia. Uma escrivaninha envolvida nas cortinas esvoaçantes da janela sempre aberta impunha-se. E nada lá mais havia para além dela, senão baús de vários tamanhos cujas memórias haviam enferrujado os trincos.
Nos canteiros o jasmim beijava o lírio; a cama de rede abraçava o espaço de dois corpos; um sidecar envelhecia junto ao limoeiro; o cheiro da alfazema envolvia-se com uma qualquer gota de água de colónia envelhecida.
E era essa envolvência, esse sublime toque de algo não dito que indicava que ali, noutro tempo ou noutro amor, duas almas já se haviam pertencido.

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