09 abril, 2012

Crónica de Sábado à Tarde

O cheiro a madeira queimada vinha da chaminé do terraço.
O terraço que, com uma incrível vista sobre a vegetação da pequena aldeia, no topo da casa preenchia, com o seu vazio, a necessidade de libertação dela.
Estava sentada no centro, numa cadeira branca com marcas de tempo e de maresia. Ao fundo, as dunas. Grandes blocos de areia com uma leveza incrível, uma máscara de Natureza entre tantas outras ali presentes.
No centro. Fixava o olhar num qualquer ponto à sua volta; na palmeira, à frente, na nuvem ao fundo ou até mesmo na antena em sentido ascendente.
Procurava algo. Sentia-se bem ali, livre, mas não plena. Também não era triste, apenas buscava algo que lhe parecia demasiado impossível de encontrar.
Tinha também uma grande necessidade de estar sozinha. Gostava da sensação de contacto com o resto: o ar, o céu, o cheiro a madeira queimada ou os raios de sol que faziam as sobrancelhas franzir.
Muitos não compreendiam a sua propositada solidão e ela, em tentativas vãs de explicá-la, fazia com que os comentários se repetissem mais tarde. E como isso a destabilizava.
Não tinha a necessidade constante de estar rodeada de pessoas, nem achava correcto forçar essa mesma necessidade constante; seria desconfortável para ela e para os outros. Mas os outros não percebiam.
Ali encontrava-se. Ela, com ela. E não sabia bem porquê. Ou porque cultivava a ideia que ninguém estaria disposto a amá-la, ou porque se apercebia que na verdade, nunca poderia contar com ninguém a não ser com ela própria.

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