08 janeiro, 2012

Dentro das minhas crenças (aquelas que se vão formando à medida que a maturidade desabrocha) está a ideia que possuímos um vastíssimo património imaterial.
Não está arquivado dentro de uma pasta beige numa gaveta metálica, não tem etiquetas nem sequer definição palpável, mas é aquele que reconhecemos a qualquer altura.
É, na realidade, o único património que temos assegurado. Sensitivo, imagético, real. Ou irreal? Se calhar rodeado de eufemismo, mas, esse será o único que iremos recordar com o decorrer dos anos, com o aparecimento das rugas e dos cabelos brancos. É esse que iremos recordar no parque infantil ao vermos a descendência que negávamos, ou num cemitério ao vermos o fim que negávamos também. Iremos recordar o mesmo ao ver uma fotografia, ao cheirar um cozinhado familiar, ao fechar os estores à noite. Ao caminhar no trilho de sempre ou ao mudar de rumo. Ao ouvir um disco, a ler um livro, a ver um filme. Ao reencontrar velhos conhecidos ou ao encontrar os amigos de sempre. Ao olhar, ao tocar, ao fechar os olhos e ao respirar fundo. Ao abrir os braços, ao esboçar um sorriso ou ao cair de uma lágrima. Ao olhar para cima ou até mesmo a olhar para baixo, mas especialmente ao olhar para o lado. Estará sempre uma ideia incrível de reconforto dentro de nós mesmos de algo que já aconteceu ou até mesmo de algo que esperamos que aconteça, sabendo inclusive que a sua existência é perfeitamente impossível. Essa ideia, essa sensação, acompanhará a nossa existência, e apenas se acabará quando nós nos acabaremos também.
E esta fotografia é sempre um recordar desse meu património. Ela e os 7 dias antes de a tirar. 7 dias de incríveis surpresas, de sensações, cheiros, pessoas e sítios inexplicáveis. 7 dias onde não só visitei, como vivi num local onde o meu ser se sentia em casa, mesmo sem o estar.

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