28 abril, 2011

2 horas de viagem, infinitas doses de recordações.


O quarto já está meio limpo, o pó, esse por completo. As camisas e as câmaras já estão dentro da mochila, os óculos de sol em cima da cómoda. Seguem-se duas horas de viagem por entre mar e campo e estrada, até regressar à grande cidade. Duas horas de retorno que correm por entre sítios decorados pela memória, que não passam despercebidos, fora quando o sono chega.
Não existem mais de duzentas pessoas. Não, nem pensar.
É uma aldeia do litoral como há poucas. Recordo-me daquele pequeno lugar desde que me lembro de ser.
A casa grande e branca, com rebordos amarelos dá as boas-vindas no final da rua sem alcatrão através dos seus portões de ferro verdes.
As portadas das janelas são de madeira, bem como as portas, repletas de vento e de brisa marítima.
O que mais estimo é o cheiro. O cheiro que se sente quando abrimos a porta que fecha anos dentro daquela casa, e que se soltam com o abrir de uma nova temporada.
O meu quarto transpira azul. O azul das colchas das camas, mais os dois tons de azul dos cortinados da janela, mais o azul do vestido da boneca gigante, mais ainda os puxadores das gavetas que alternam de cor, incluindo o azul. Ah, mais o azul do mar que se esconde atrás da duna que vejo para lá do vidro.
O meu quarto tem duas camas. Uma recebe o fardo dos hábitos citadinos, a outra o descanso de temporadas de leveza. Dividem o meu ser naquilo que trago sempre para levar depois, mas que naquele tempo não interessa.
Aquele tempo escolhido como cânone de felicidade.
A praia fica a um quilómetro de distância. Distância percorrida com o mesmo espírito, ao longo dos anos, onde as mais diversas memórias vêm à superfície. São inúmeras, dispersas, diferentes, únicas, minhas.
Um pedaço de paraíso no meio de tanto pecado terreno.
A mochila está agora no porta-bagagens. As portadas estão fechadas e os portões trancados. Durante um tempo não vou ouvir a minha avó a dizer-me para não me sentar em cima da cama porque amarroto a colcha, ou sentir as badaladas da porta de molas da sala por onde toda a gente passa.
Haverá sempre um novo começo, um novo abrir de janelas, um novo caminho, um novo rasgo de céu a descobrir, um novo pôr-do-sol para ver. Haverá sempre um novo recomeço.
Há pessoas que constroem sítios, mas há sítios que constroem pessoas, e vivo todos os dias com o exemplo perfeito disso.

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