06 janeiro, 2010

Já alguma vez disse que te amo?


Não posso, não consigo, nem quero...
Continuar assim.
Já não depende de mim, só sei que algo cá dentro sufoca e pede liberdade, algo que não consigo corresponder, e o meu estado de ansiedade magoa.
Magoa e mata.
Sempre tiveste esse jeito do qual eu vivia dependente, do qual não prescindia.
E eu amava.
Amava tudo.
Aquilo que eras, o teu sorriso, o teu sentido de humor, o sinal que tinhas junto do olho direito e até mesmo o embaraço de quando te deparavas com situações desconfortáveis.
Continuavas nesse estado de perfeição do qual não parecias querer sair.
E eu continuava a querer-te a meu lado, independentemente de tudo...
Agora olho para trás e rio-me de tudo o que se passou, talvez para esconder a saudade e a nostalgia que sinto...
Porém, há algo que continua a sobressair mais do que todas as outras recordações...
Voltemos ao verão de '75:
Fugimos como dois loucos sem pensar nas consequências que poderíamos ter, mas o nosso amor falava mais alto. E chegámos até onde queríamos!
Paris...
A viagem que me prometias desde o dia em que me viste com um postal da cidade da luz, e o brilho dos meus olhos "iluminava até a noite mais escura" como tu disseste. Ainda me lembro da camisa aos quadrados que tinhas vestida e o cigarro na boca como o James Dean. Ah! Como ficavas bem!
Chegámos com apenas "meia dúzia" de francos que conseguimos trocar e ficávamos onde pudéssemos.
Mas foi aquele dia, o dia 3 de Agosto de '75.
Passeávamos junto ao Sena, com o sol quase a pôr-se e a Torre Eiffel como plano de fundo. Chegaste perto do meu ouvido e sussurraste:
- Já alguma vez disse que te amo?
E eu simplesmente respondi, sussurrando também:
- Não sei... Não que me lembre...
- Então a partir de agora, lembra-te: Eu amo-te.
Até hoje não me lembro de me sentir como naquele dia, e a verdade é que nunca me esqueci daquelas palavras. Cumpri o que me disseste.
A vida nunca será como nós queremos, e a verdade é que nós somos prova disso. A vida naquela altura era difícil e não conseguimos ficar juntos. Até hoje me culpo. Penso sempre que podia ter lutado mais e mais por ti, por nós! Mas a verdade é que não lutei. Sempre soube que nunca seria feliz sem ti, mas nunca tive consciência até realmente sentir que te tinhas ido embora. Até sentir que não te iria ver todos os dias, até sentir que não iria mais cheirar o teu perfume, até sentir que os Ritz já não sabiam ao mesmo sem ti...
Poderia ter sempre mudado as coisas, ter-te procurado, mas não o fiz. Não sei se foi por medo ou por falta de ousadia. Simplesmente não o fiz. E agora arrependo-me. Agora mais do que nunca... Porque te perdi para sempre.
Agora não há volta a dar. Partiste, definitivamente.
E eu morro por dentro.
Não sei porquê, mas mesmo que não estivesse contigo, sentia uma espécie de segurança, pois sabia que te poderia encontrar na rua ou numa loja, e tu estavas lá, e irias olhar para mim dessa forma que me fazia sentir única. Só tu.
Agora chegou a minha vez, meu amor, e espero que aí em cima olhes por mim, e que te lembres sempre disto:
- Já alguma vez disse que te amo?
por: Beatriz Saraiva *

2 comentários:

  1. Be'actriz, q inpiração magnifica :)

    Está tão liindo, tão bem escrito, tão profundo... e sabes a importância q dou à escrita ;)

    Parabéns :D

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  2. Palavras que acalmam, que fazem relembrar um momento só teu. Algo no passado e impossível de descrever. No entanto, você conseguiu dar magia ao texto.
    A escrita é um trabalho árduo. Continue assim.

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